Da essência






Água. É a primeira palavra. Depois vêm todas as outras. Todas as que simbolizam muito. E todas as que apenas preenchem os espaços onde o silêncio não faria sentido. Um mundo de palavras. Um mundo de conceitos. De ideias que se tocam. Se cruzam. Se amarram. Se amam. Se esquecem. Regressam. Nunca partindo. Voltando sempre do final de cada frase, para que nenhuma frase seja a última. Para que o futuro esteja sustentado ainda que seja numa palavra qualquer.

A primeira é água. Talvez porque a água me devolve o teu sorriso. Porque existe água na tua expressão facial. A pureza. A leveza. A frescura que alivia a minha alma por vezes demasiada pesada, demasiado turbulenta demasiado presa às coisas que não são da água. A água é o amor. A água é a paixão. A água é todas as coisas que tu és. Porque tomaste a água para ti na simbologia sagrada da tua existência dentro da minha alma. E a transformas em todas as coisas que és. Em todas as coisas que te vejo ser. Em todas as coisas que foste, já não és, voltarás a ser, nunca mais serás, talvez sejas sempre.

A água é o elemento mais puro que te simboliza dentro de mim. É a essência. É a tua essência. Ou, pelo menos, é a essência de ti dentro de mim, da imagem tua que construo, dessa imagem que me acompanha por entre os dias. Como se trouxesse água dentro do meu coração tão cheio de fogo. Como se fosse água que corre por entre as minhas veias, quando ouço a tua voz, quando te vejo, quando te toco, quando te recordo, quando te sonho.

Devolves-me algo da infância. Dessa pureza que procuro desde sempre. Como a água fresca que amava nos dias sufocantes do Verão. Como essa coisa mágica que flui por todas as partes do mundo, transparente, mostrando, a um mesmo tempo nessa transparência, a sua verdade e a verdade de todas as coisas.

O que quererá dizer tudo isto? Não sei. Pensei-te. E escorrias de uma forma pura, fresca, ao meu redor, dentro de mim, fora de mim, perto de mim, longe de mim, mas sempre, sempre tu-água-eu. E o resto são todas as palavras.

Desde a primeira. Desde a nascente. Desde a espuma que fica na areia e me lembra que tudo é eterno, que tudo regressa à primeira forma, e que a primeira forma é a última forma e todas formas entre uma e outra.


Há algo que me traz o primeiro segundo da minha vida.


Há algo que me traz um segundo anterior.


Algo na forma de tu fluires.


Como água. Pura, fresca, transparente, límpida, regeneradora.


Tu.


R.

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