As pessoas dizem frases como "ai, andei as voltas para conseguir estacionar o carro..." ou " andei às voltas para conseguir um emprego" ou ainda na vertente de, numa classe mais alta do que a que andou às voltas para conseguir um emprego, "ai, fartei-me de andar às voltas para conseguir encontrar a prenda para o Manelinho!".
Pois...não entendo. O mundo anda às voltas. No fundo, e estando nós de pés assentes no mundo,não temos grandes alternativas senão andar às voltas com ele. Mas a questão aqui é que não vejo o mal de andar as voltas.
Eu gostava de poder andar sempre às voltas....Como faço quando saio deste mundo, o tal que anda às voltas, e flutuo. E a flutuar consigo andar as voltas. E isso faz-me feliz. Flutuo por cima de recordações que me fazem sorrir, flutuo sobre o final perfeito para a história que foi escrita para ser perfeita, flutuo até noutros países, flutuo com pessoas que não conheço. Flutuo com ele, Flutuo com ela, flutuo com o amor ou sem o amor, as voltas são sempre diferentes. Mas são sempre voltas. E mais voltas.
Às vezes não entendo como podem as pessoas não entender que a nossa vida é feita de voltas. Nascemos. Podemos nascer numa família feliz, ou ser abandonados num saco de lixo...porque em determinado momento, a historia de vida de duas pessoas deu uma volta, que as fez encontrarem-se, e,por algum motivo, fornicarem - há quem ache a palavra fornicar feia...eu não a acho particularmente bonita, mas há muitas palavras que não acho bonitas e que toda a gente diz. Não entendo a implicância específica com a palavra fornicar. Mas de qualquer forma, bonita ou não, lá aconteceu. E por isso nascemos. E pelo simples facto de nascer, a nossa vida dá uma volta.
Crescemos e as voltas são cada vez mais. "Se o Martinzinho não tivesse caído do carrinho quando era mais pequeno, agora já saberia andar, de certeza!". Ou "A Beatriz tem muito jeito para desenhar!" dito por uns pais que valorizam esse dom na criança, ou simplesmente o elogiam porque é criança e depois esquecem. Aí está uma grande volta que todas as nossas vidas podem dar. A partir daí, crescemos e tornamo-nos mais conscientes. Se os nossos pais nos continuaram a apoiar, concerteza desenhamos muito melhor agora...e talvez, se gostamos mesmo de desenhar, queiramos pintar o tecto da maior igreja do mundo!
Aqui está aquela volta importante: se fomos incentivados a sonhar, então não devemos ter medo de abraçar o mundo. Ou a vertente contrária, começamos a ser maiores , e os nossos desenhos já cansam. "Ai, lá esta o Carlos com os seus desenhos!" ou "Ai rapaz, porque que não vais brincar com os carrinhos? Só desenhas, parece que não sabes fazer mais nada!"...então é aí a primeira vez que aprendemos que sonhar não vale a pena. Que afinal, o que temos que saber são outras coisas. Muitas coisas, é muito mais importante do que saber muito sobre o que se ama. Se calhar é melhor não sonhar, lutar por uma vida igual à das pessoas normais.
"Pessoas normais". Ora aí está mais um a expressão que me intriga. O que é uma pessoa normal? Já fiz esta pergunta a algumas pessoas, que olharam para mim como se eu tivesse vindo de um planeta estranho, onde coisas importantes como perceber porque dizemos que determinada pessoa é normal, fossem isso mesmo, importantes.
Algumas ignoraram-me...outras responderam coisas parecidas. Algo como " uma pessoa normal é uma pessoa que vai prá escola, tira boas notas, depois tira um curso, tem uma namorada há já alguns anos, e quando estiver seguro no trabalho que arranja depois do curso, pede a namorada em casamento. Casam, e quando tudo o que querem na casa estiver perfeito, pensam em ter um filho. Depois continuam a trabalhar, a deixar os filhos com pessoas que tiraram um curso para poder cuidar deles, ao fim da tarde chegam cansados, põem a criança distraída com qualquer coisa, ela faz o jantar, passado um pouco vão-se deitar para repetir tudo no dia seguinte, depois o filho cresce e transforma-se num dos pais. É assim".
Claro que ninguém me deu esta resposta objectivamente, apenas faço um resumo da interpretação que fiz do que ouvi.
Voltando às voltas, eu queria andar às voltas. Ia conhecer um bocadinho de cada cultura do mundo. Todas elas têm encanto, quanto mais não seja pelo facto de serem seguidas por gerações e gerações de pessoas, mesmo sabendo que ali ao lado, existem outras pessoas, que concerteza, seja qual for a cultura, são diferentes. A sua cultura é assim que vai continuar a ser. E isto tudo se passa no tal mundo que anda às voltas, que curiosamente é o mesmo para as pessoas normais de cada cultura diferente, e também para aqueles que,supostamente, não o são.
Em relação à voltas da vida, imaginem como um só momento pode dar a volta à vida de alguém. Faz frio, ele gosta dela, ela gosta dele. Vão juntos no autocarro, a pensar no quanto gostariam que aquela fosse a pessoa com quem iam partilhar toda ou uma parte da sua vida. Saem do autocarro, ela vai ao shopping ter com as amigas, ele vai a uma loja onde combinou com um colega. E param naquela esquina. Se fosse um filme, este momento seria em câmara lenta. É naquela esquina que a vida dos dois pode mudar, é naquele local, onde dois caminhos se cruzam, que o futuro deles se cruza. Ele pensa em agarra-lhe a mão. Ela deseja mais do que tudo que ele a beije. Ele hesita. Ela anseia. Acabam por se despedir com dois beijos, e não voltarem a ver-se. Uma volta.
Quem sabe se, depois de mil voltas, se irão reencontrar, e ficar juntos para sempre. Depois de, em muitas voltas, ela estar já com o cabelo todo branco, e ele quase sem nenhum. E aí está uma volta, que, apesar de no meio ter tido muitas voltas, é feliz.
Não há que ter medo das voltas da vida...às vezes fazem-nos sofrer, mas no fim levam-nos ao local certo! Que é exactamente aquele onde estamos!
Beijinhos Sofy
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Jujikas disse...
E tanta volta dei que realmente estou no sitio certo, agora continuo a dar voltas mas acompanhada!
19 de outubro de 2009 às 15:58
Ric e Sofy disse...
Que bom Ju, espero que essas voltas sejam quase sempre por caminhos lindos e felizes :) ***
Sofy
20 de outubro de 2009 às 14:04
Autocarro Copa D disse...
Fantástico, Sofia - ou Phi. Já lá ia um tempo valente desde que um post me prendeu a atenção tão fortemente. E desde que escrevia um texto fora deste meu eu satírico, um texto sério. Falas da vida com a intensidade perfeita: de forma forte e directa, mas não lamechas.
Antes de mais, e unindo de forma extremamente sucinta algumas das ideias essenciais do teu post, a verdade é que a vida é um ganda fornicanço. Por vezes orgásmica, outras vezes desagradavelmente surpreendente, revelando, por debaixo do top e calças de ganga mais vulgares, lingerie em cabedal e sacando de uma chibata, algemas e... outras coisas (há quem goste - não é o meu caso, daí associar às surpresas desagradáveis da vida).
Acerca do que é uma pessoa normal: para mim, é uma pessoa que toma as decisões que acha melhores em cada instante. Com as glórias e desconsolos que o "achar melhor" acarreta. Qualquer pessoa fiel a si própria é normal.
O antepenúltimo parágrafo é um apanhado perfeito. Quantas, quantas vezes, caraças (tradução: carago), não terá acontecido uma volta daquelas?... Não precisa de ser com a pessoa que já se conhece e que vem connosco no autocarro. Pode ser com aquele(a) desconhecido(a) com quem se trocou um olhar tímido. Pode ser com o(a) colega do trabalho ou da escola com quem nos cruzamos nos corredores, e a quem só falamos de vez em quando, por circunstância. Mas que tem qualquer coisa de... diferente.
No entanto, as voltas podem ser para melhor ou pior. Quem sabe se o que temos está mais perto do melhor ou do pior que podíamos ter tido? Ninguém sabe. E daí resulta sermos miseráveis, como diria o Dr. House. Podemos é contrariá-lo e, mesmo que não tenhamos o melhor possível, sorrir e fazer tudo para que passe a ser o melhor.
Queria só dar mais uma achega em relação a outro dos teus blogues, o do Hospital de Dia, no qual não consegui comentar, não sei bem porquê. Antes de mais, acho óptimo e essencial que continues a escrever tanto e desta maneira. Ajuda-te a ultrapassar qualquer problema, é saudável. Para ti e para quem lê. A achega: ser Phi é mais que uma pintura num rectângulo de ouro.
Não deixes que nada te perca de ser Phi também na cabeça, amiga Phi. ;)
PS: Não me esqueci da resposta ao post dos sonhos, fica para breve.
24 de outubro de 2009 às 21:17